NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da Terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
Valete, Fratres.
(10 de Dezembro de 1928)
© Capas & Companhia
© Capas & Companhia
Publicado originalmente em Julho de 1934, num número da revista O Mundo Português comemorativo da Exposição Colonial do Porto (onde, entre outros, surge um texto do futuro líder da Mocidade Portuguesa, futuro ministro e futuro Presidente do Conselho de Ministros, Marcello Caetano [1906-1980], intitulado Carta a um Jovem Português sobre o Serviço do Império), este poema integra aqui uma trilogia intitulada Tríptico.
Na versão impressa de Mensagem, publicada pouco depois, este poema integra a trilogia O Timbre e surge com o antetítulo A Cabeça do Grifo.
A única variante deste poema relativamente à versão posterior (não registada em qualquer uma das edições críticas consultadas) surge no terceiro verso, onde a forma verbal aqui presente, "Fita", foi substituída por "Tem".
Esta forma verbal, aliás, é recorrente em Mensagem, pois Pessoa utiliza-a duas vezes no primeiro poema, O dos Castelos – "(...) Fita, com olhar esfíngico e fatal, / (...) / O rosto com que fita é Portugal." e novamente no poema D. João o Segundo – "Braços cruzados, fita além do mar. / (...)".
© Capas & Companhia
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