Sexta-feira, 20 de Junho de 2008

A Espantosa Fera de Chaves (X)

 

   A leitura das três cartas endereçadas a D. Luís da Cunha (não confundir com o diplomata homónimo D. Luís da Cunha, 1662-1749) permite-nos verificar que as intervenções do general Francisco Xavier da Veiga Cabral (da Câmara, 1710-1761) e seu filho, o capitão Francisco António da Veiga Cabral da Câmara (Pimentel, 1733-1810; posteriormente, 80.º governador da Índia, 1794-1807, e 1.º visconde de Mirandela, 1810), relatadas na Relação Verdadeira da Espantosa Fera, correspondem à realidade. Também nos permite concluir que de facto se registou um número indeterminado, mas significativo, de vítimas.

   São estes, no entanto, os únicos factos coincidentes em todos os relatos. 

   Os números relativos às forças militares envolvidas diferem nas três fontes - sessenta cavalos e duzentos infantes na Relação Verdadeira da Espantosa Fera; cem cavalos e duzentos infantes na primeira carta do general Francisco Xavier da Veiga Cabral; quinze oficiais e duzentos soldados na carta do vedor Marcelino Leitão de Carvalho.

   Do mesmo modo, a contabilização das vítimas apresenta números díspares - "arbitra-se o numero das mortes a mais de cem" (Relação Verdadeira da Espantosa Fera); "de cem presas, dizem, há-de passar a  destruição" (Nova, e Verdadeira Relaçam); "matando, e devorando perto de trinta, ou mais pessoas de ambos os sexos" (carta do general Veiga, datada de 12 de Maio de 1760); "por ter comido alguas crianças" (carta do vedor Marcelino Leitão, data de 13 de Setembro de 1760).

   Também o resultado das diligências difere. Enquanto a Relação Verdadeira da Espantosa Fera declara a morte de um monstro, de que se faz uma descrição na Nova, e Verdadeira Relaçam, na carta do general Veiga declara-se apenas a morte de uma loba e a fuga do seu companheiro, um lobo monstruoso, que posteriormente terá aparecido na Galiza.

   Já na carta do vedor, claramente marcada por um tom crítico e irónico sobre as decisões do general Veiga, se refere que apareceu em Chaves um clérigo a reclamar a morte do animal, conseguida unicamente com duas balas, embora este apenas apresentasse como prova da façanha uma pele seca de lobo...

   De todo estes relatos se conclui, portanto, que as populações das cercanias de Chaves foram efectivamente atemorizadas, durante alguns meses do ano de 1760, por acontecimentos inusitados provocados por um animal feroz e invulgar. Fosse ele lobo, loba ou monstro...

 

© Capas & Companhia


publicado por blogdaruanove às 11:00
link do post | comentar | favorito

.mais sobre mim


. ver perfil

. seguir perfil

. 44 seguidores

.pesquisar

 

.Dezembro 2021

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
11

12
13
14
15
16
17
18

19
20
21
22
23
24
25

26
27
28
29
30
31


.Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

.posts recentes

. A Espantosa Fera de Chave...

.arquivos

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

.tags

. todas as tags

SAPO Blogs

.subscrever feeds